Somos saudade em massa.
Somos uma pandemia de tristeza.
Somos cidadãos vítimas do desamparo público.
Somos dizimação da maior desumanidade da história coletiva e política de um país.
Não é só o vírus.
Não são as cepas.
Não é a falta de terapêutica curativa.
É o desrespeito humano que dispensa máscara, que aglomera para confrontar, que grita por um remédio que não tem valor terapêutico, isso sim é roubar vidas e matar um país.
Somos meio milhão de caixões.Somos um país excluído do mundo.
Somos vergonha.
Somos lágrimas.
Somos corações rasgados pelas ausências, pelo silêncio, pela omissão, pela cama vazia, pelo armário que ainda exala o perfume, pela escova de dentes que segue no mesmo lugar, pela comida preferida que nunca mais será degustada, pela música de uma vida que ressoa no fim do dia solitariamente, pelo impacto financeiro de dezenas em centenas. Somos todos os detalhes de histórias únicas que, hoje, repartidas, procuram lugar para ainda pulsar. Muitos únicos que ficaram. Muitos repartidos que serão metades para sempre. Muitas famílias que esvaziaram.É muita desintegração para uma só nação.
Por isso, registramos a nossa consternação e o nosso repúdio a todos que tentam negar a pandemia e descuidar do próximo.
O próximo desconhecido de mim é único no mundo para alguém. Que não esqueçamos daqueles que não cuidam. Nem por um segundo.