Plano para imunizar o mundo se transforma em intensa disputa política

Na Organização Mundial da Saúde, a avaliação feita longe dos holofotes é de que a atual pandemia só será freada agora com uma vacina. No melhor dos cenários, os produtos chegarão ao mercado em meados de 2021. Mas, nos bastidores, governos já vivem uma inédita batalha diplomática em relação ao produto, abrindo negociações, corrida aos produtores e ameaças de disputas legais.

Para a cúpula da OMS, se o mundo fracassou em estabelecer um acordo de cooperação e solidariedade para lutar contra o vírus que já matou mais de 500 mil pessoas, o cenário pode abrir uma crise profunda na disputa pela vacina. Uma demonstração dessa situação foi dada com o comércio de respiradores e máscaras, repleto de desvios, verdadeiros leilões de cargas e jogadas comerciais.

Na esperança de evitar esse novo capítulo de uma crise global, a tentativa da comunidade internacional agora é a de fechar um acordo sobre a vacina, antes mesmo que o produto chegue ao mercado e justamente para garantir que a disputa que se viu em março e abril não se repita em uma nova escala, ainda maior.

O temor é de que os países mais ricos simplesmente comprem todas as primeiras doses, deixando o restante do mundo com uma séria escassez. Tanto nos EUA como na Europa, movimentações já dão indicações de que o cenário de concorrência pode se concretizar. Em Bruxelas, por exemplo, a UE reservou bilhões de euros para já negociar a pré-compra com multinacionais. Em Washington, tratamentos foram alvo de uma ofensiva de compras do governo, entre eles o remdesivir. Em Genebra, um mecanismo foi proposto nesta semana para estabelecer regras: o Acordo Global para Garantir uma Alocação Justa de Produtos da Covid-19. Trata-se de um projeto que envolve a OMS e a aliança de vacinas, conhecida como Gavi, além de outras entidades e governos. Em meados de junho, os primeiros detalhes foram apresentados aos embaixadores de todo o mundo. Um segundo encontro ocorreu na semana passada. Agora, um texto de rascunho do acordo foi elaborado e a meta é de que o entendimento esteja concluído ao final de julho.

Pelo projeto, critérios seriam estabelecidos para que grupos recebam de forma prioritária a vacina. Isso incluiria profissionais do setor de saúde, idosos e adultos com problemas de saúde. Juntos, esses três segmentos representariam cerca de 20% da população mundial e a meta é de que 2 bilhões de doses sejam produzidas até o final de 2021. O projeto envolve US$ 18,1 bilhões, dos quais US$ 11 bilhões são necessários imediatamente. Mas para chegar a todos esses segmentos prioritários na vacinação, seriam necessários 3,7 bilhões de doses, considerando que cada pessoa terá de tomar duas doses da futura vacina. Não haverá, porém, produtos para todos num primeiro momento e uma das estratégias da OMS é de que, no novo acordo, fique estabelecido que todos os países receberiam, num primeiro momento, um volume suficiente para vacinar 3% de sua população. Com isso, todos os profissionais de saúde e trabalhadores sociais seriam atendidos e todos os países seriam atendidos.

 

Por: UOL/Jamil Chade

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