Wanderlei Alves, que foi uma das grandes lideranças da greve dos caminhoneiros em 2018, pegou uma forte pneumonia que prejudicou seus dois pulmões em abril de 2020, ficou em isolamento dentro do seu caminhão, parado em um posto de gasolina à beira de uma rodovia, após isso, sofreu outro revés.
Com o caimento da demanda e do preço do frete nessa nova realidade de pandemia o caminhoneiro atrasou o pagamento das parcelas e ficou desempossado de seus três caminhões.
Muito abatido, Wanderlei decidiu vender o que sobrou dos caminhões, então vendeu os pneus para abrir sua hamburgueria, em Curitiba, no Paraná.
O ex caminhoneiro, hoje com 46 anos, pressupõe que a greve chamada por parte da categoria para 1º de fevereiro de 2021 não deve ocorrer, pois boa parte dos caminhoneiros segue, apoiando e gostando do presidente Jair Bolsonaro.
Segundo Wanderlei, o comunicado da greve foi uma estratégia de parte dos caminhoneiros para reabrir o diálogo com o governo, que tinha sido suspenso pela pandemia. O episódio dos motoristas de caminhão terem sido incluídos na última sexta-feira (22/01) entre as categorias prioritárias para vacinação contra a covid-19 e de o governo ter zerado o imposto de importação para pneus usados no transporte de cargas mostram que a pressão já surte efeito.
“A greve de 2018 foi uma greve planejada e bem trabalhada no sigilo, nos bastidores, durante seis meses para acontecer”, lembra Wanderlei. “Além disso, ela teve apoio da população quase em geral e do setor rural. Isso não tem mais, porque o setor rural hoje está todo do lado do governo. Ruralista rico gosta de governo ruim porque governo ruim faz o dólar subir e quem vende em dólar se dá bem. Então o agronegócio gosta do Bolsonaro, porque aí eles vendem a soja deles a R$ 5, R$ 6 o dólar”
O ex motorista declara que nunca foi eleitor de Bolsonaro, muito menos fez campanha para o atual presidente. Filiado ao Podemos, pelo qual concorreu a deputado federal nas eleições de 2018, diz ter votado no primeiro turno em Álvaro Dias, candidato à Presidência pelo partido em 2018. No segundo turno, o ex-motorista enuncia que sequer foi votar. “Quando eu estava indo em Brasília, com as portas abertas lá, ou eu baixava a bola ou não conversava. Porque eu já dava pau no Bolsonaro naquela época. Ou baixava a bola, ou não entrava no Ministério da Infraestrutura. Essa é a verdade. Quem é contra o Bolsonaro não tem acesso ao governo. É assim que funciona ali.”.
“Esse é o pior governo que o Brasil já teve em toda sua história. O Bolsonaro é incompetente. Ele sempre foi”, afirma. “Como deputado, ele sempre foi baixo clero e o povo não conhecia. O que lançaram nas redes sociais não foi o Bolsonaro, foi um personagem. O Bolsonaro de verdade está sendo apresentado agora. Não vale nada e nunca prestou”, diz Wanderlei.
O ex caminhoneiro alega que pouco melhorou para a categoria desde a última greve, e a situação piorou ainda mais com a pandemia.