O médico psiquiatra Jairo Navarro explicou que os transtornos mentais em geral, assim como doenças crônicas, mudam comportamentos. “Pessoas ansiosas e deprimidas, por exemplo, têm alteração de humor, desânimo, diminuição da vida social, prejuízo no rendimento do trabalho e tendem a ficar mais irritadas. Com isso, há impactos na vida conjugal.”
Segundo o médico, esses transtornos geram prejuízos até mesmo no desejo sexual, além de alterações no peso. “Quem passa pelos transtornos tende a ter menos empenho no cuidado com a família e até no cuidado pessoal.”
Ele ressaltou que o marido ou mulher, que estão próximos, precisam entender que se trata de um adoecimento. “E como qualquer adoecimento, precisa de tratamento.”
A ginecologista, obstetra e especialista em sexualidade Lorena Baldotto, enfatizou que tanto a depressão quando ansiedade e síndrome do pânico afetam a vida sexual. “Uma pessoa com depressão, muitas vezes, não tem disposição para nada, incluindo para o sexo. Isso afeta homens e mulheres e impacta diretamente nos relacionamentos.” Lorena, que também atua com terapia de casal, ressaltou que constantemente recebe pessoas com problemas no casamento.
Para a psicóloga Rubia Passamai, os transtornos mentais influenciam não só na vida de quem está doente, mas das pessoas que convivem com ela.
Ela reforçou a necessidade do acompanhamento com uma equipe multidisciplinar. “O médico psiquiatra pode prescrever medicamentos, por exemplo, o psicólogo trabalha na ressignificação das vivências que servem de gatilho para transtornos. Quando a família se dispõe a fazer parte do tratamento, ele se torna mais eficaz.”
A sexóloga e terapeuta de casais Sirleide Stinguel salientou que, caso não seja tratado, o problema pode se arrastar por anos. “Atendo um casal que não tem relação sexual há 9 anos. Tudo começou após ela passar por depressão”.
Pandemia
Apontada como um dos fatores que tem afetado relacionamentos, a depressão continua aumentando no País, em níveis alarmantes. De acordo com a Pesquisa Vigitel 2021, do Ministério da Saúde, em média 11,3% dos brasileiros relatam um diagnóstico médico da doença.
O índice é bem acima da média apontada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) para o País, de 5,3%.
O Vigitel é um levantamento anual sobre saúde nas capitais e, pela primeira vez, traz números da depressão. A pesquisa apontou também que, em média, há mais pessoas no Brasil com depressão do que com diabetes (9,1%). O trabalho revelou, ainda, que a doença se mantém afetando mais mulheres (14,7%) do que homens (7,3%).
“Já tínhamos um indicativo de que o problema estava aumentando e, por isso, decidimos incluir a depressão no Vigitel, que é feito com maior periodicidade”, explicou o coordenador do trabalho, o professor Rafael Moreira Claro, da Universidade Federal de Minas gerais.
Os pesquisadores acreditam que o número expressivo de diagnósticos está agora relacionado à pandemia de covid.
Depressão
É uma doença crônica. Nos quadros de depressão, a tristeza (que é natural por algo ruim que nos aconteceu), simplesmente não passa.
Os sintomas mais comuns são: tristeza profunda, irritabilidade, alteração do apetite, com perda ou ganho de peso, desânimo e cansaço, falta de eficiência e motivação, pensamento de morte e outros.
Ansiedade
Quem tem transtorno de ansiedade sente uma preocupação e medo extremos em situações simples e de rotina. Alguns apresentam sintomas físicos, que atrapalham suas atividades cotidianas.
Seus sintomas são: inquietação, fadiga, irritabilidade, dificuldade de concentração, tensão muscular, perturbação do sono e outros.
Síndrome do pânico
São crises repentinas de ansiedade aguda, marcadas por muito medo e desespero, associadas a sintomas físicos e emocionais aterrorizantes.
Sintomas: medo de perder o controle, medo da morte ou de uma tragédia, dormência e formigamento nas mãos, nos pés ou no rosto, palpitações, desconforto, dores no peito, tremores e outros.